Relacionamento Tóxico

Para sistematizar os principais sinais de relacionamento tóxico, Kirkman (2015) conduziu um extenso estudo sobre vítimas, com aplicação de entrevistas em que foi possível identificar os principais comportamentos e atitudes por parte do agressor:

1. Insistência, pressão e manipulação

A totalidade das vítimas destacou o charme e a ligeireza usados pelo agressor para facilitar o início do relacionamento e o seu desenvolvimento rápido para a formalização da união por via da coabitação ou do matrimónio. Assim, as histórias de vida relatadas pelas vítimas, são marcadas pelo ritmo a que as relações progridem e se estabelecem. 

Esse ritmo foi um tema recorrente dos seus relatos, com muitas das vítimas a viverem na mesma habitação com o agressor, ou a casarem-se com ele (por insistência deste) após pouco tempo de se conhecerem. Esta precipitação da relação por parte do agressor, parece produzir o clima propício aos abusos e a eventual vitimização da parceira que ocorrerá neste contexto.

2. Mentira e decepção

Todas as vítimas relataram a presença da mentira em todas as dimensões do relacionamento tóxico. Estas mentiras são descritas frequentemente como de natureza intrincada ou bizarra, passando pelo uso de identidades falsas, de uniformes militares ou de forças de autoridade, profissões falsas associadas a elevados rendimentos. 

3. Violência económica

Muitos relatos das vítimas apontam para comportamentos representativos de violência económica. Muitos dos agressores vivem de modo parasítico, às custas da vítima, levando-a muitas vezes a contrair créditos para benefício do agressor. São relatados também casos em que o agressor adquire bens e serviços sem conhecimento da vítima. O agressor revela dificuldades em manter empregos, perpetuando a sua dependência económica relativamente à vítima, mesmo através de esquemas fraudulentos e sub-reptícios.   

4. Abuso emocional e tortura psicológica

Os comportamentos de abuso emocional e psicológico são relatados reiteradamente pelas vítimas e podem ser facilmente enumerados: 

• Relatos, pelo agressor, de sexo com outras parceiras;
• Estabelecimento de regras e castigos;
• Humilhações públicas, críticas e ridicularizações;
• Controlo de movimentos;
• Ameaças de agressão à vítima ou aos seus filhos;
• Ameaças de abandono;
• Ameaças de danificação de bens preciosos ou danificá-los efetivamente;
• Convencê-la de que “estava louca”;
• Controlar a sua alimentação e períodos de repouso;
• Invadir a sua privacidade (aceder indevidamente a telemóvel, correio eletrónico, redes sociais, instalar escutas, câmaras ocultas ou rastreadores GPS);
• Assassinato de caráter;
• Supressão de emoções;
• Assédio sexual.

5. Múltiplas infidelidades

Os relatos das vítimas demonstram uma elevada prevalência de relacionamentos extraconjugais por parte dos agressores. Estes relacionamentos paralelos tendem a acontecer no círculo de relações da vítima.

6. Isolamento e coação

A maioria das vítimas relata situações de sujeição a comportamentos que visam o seu isolamento, nomeadamente:

• Prejudicar as relações da vítima com a sua família ou amigos, impedindo-a ativamente de comunicar com outras pessoas ou de as ver;
• Insistir para que o casal viva num local desconhecido onde a vítima tenha pouco ou pouco ou nenhum contacto com os seus amigos e familiares;
• Limitar o seu acesso ao mundo exterior pela força e coação, chegando alguns agressores ao ponto de impossibilitar que a vítima abandonasse a residência por meios impeditivos de abertura de portas e janelas. 

7. Agressão física, agressão sexual e violação

Uma larga percentagem das vítimas de relacionamentos tóxicos relata episódios de violência física ou sexual. As agressões corporais tendem a acontecer sem aviso prévio ou a pretexto de coisas sem importância. A violência sexual é também recorrente.

8. Instrumentalização de crianças e maus-tratos a crianças

Foram reportados comportamentos dirigidos às crianças pertencentes ao agregado familiar, na sua maior parte filhos de ambos os membros do casal:

• Mentir-lhes;
• Ignorá-los;
• Não providenciar sustento;
• Intimidar ou aterrorizar;
• Não cumprir promessas;
• Destruir os seus brinquedos.

Não foram reportados quaisquer comportamentos de abuso sexual de crianças, mas é comum haver relatos em que estas são usadas como arma de arremesso contra a vítima, por via de ameaças de morte ou de rapto das crianças.